Princesinha
Vejo-te linda assim, dormindo
De qualquer maneira tu pareces linda
Mas quando dormes, um anjo dorme
E tua alegria hoje já trouxe uma paz enorme
E agora te vejo clara – menos rara
Não te acordes
Não te incomodes
Se uma voz sussurrar algo
Não te acordes que é segredo
Mas se estiveres acordada
Finje que dormes
Finje que nada ouves
Deixa ser segredo o que sinto por ti
Se eu te disser que te quero
Não te assustes
Dorme teu sono de anjo
Dá um suspiro, te ajusta
Mas continua dormindo
Não dês atenção
E pensa que os sussurros são vozes que vêm da televisão
Ou simplesmente sente que tu sonhas
Quando sentires no teu rosto minha mão deslizando por um momento
Se um beijo carinhoso pousar em teus lábios
Não te acordes, princesinha
O beijo foi só uma brisa inquieta
Que partiu do meu pensamento para contentar-se por uns segundos
Como borboleta que vive uma eternidade
Não te acordes agora
Que um beijo tão leve nada leva
A não ser o que já tinha dentro de si
Porque o amor só aceita o que for dele próprio
Dorme, princesinha
Dorme
Que esse olhar que te contempla
E o sorriso que o sustenta são tão meigos e ternos!
Que se sonhares com eles
Verás beija-flores cheios de contentamento
E uma aurora feliz que mais te quer bem
És um tanto natureza, princesinha
Os teus braços parecem galhos sobre o teu corpo
Abraçando teu céu
Os teus seios, duas ondas
Tão calmas, tão caladas, tão aladas
Como o seu próprio mar
As tuas pernas pelo lençol um pouco cobertas
São duas montanhas procurando respirar o ar da sala
Os teus cabelos - lisos áureos finos que me encantam
Cheirando de um perfume que só mulher tem
São nuvens dessa rede que te embala em carinhos
És o planeta inteiro
E eu aqui teu satélite
E te vejo assim tão sublime
E me vejo assim tão firme
Desse amor quanto
Pareces que sonhas como um anjo bom
E te vejo assim tão perto... infinitamente
Dorme
Deixa que a rede valse esse teu sono gostoso
Dorme
Deixa que o meu pensamento neste instante
Uma história te conte para te fazer voar
Lembro-me de filmes...
Que venham os navios e seus piratas
Que venham os aviões e seus mísseis
Que venha a guerra dos homens
Não te perturbes
Na memória mais afável (...) eu te protegerei
Dorme, princesinha
E um dia escreverei este teu sono
Diante dos sonhos mais encantados do meu bem-querer
Mas em que canto do universo poderei compor o poema que teu sono provocou?
Ah, princesinha
Não tens culpa de eu te amar assim
O culpado se esconde em mim...
Sofre uma dor...
De um não-saber-porquê
E parece que não tem fim
Sente um espaço ilimitado
Um vazio e um choro calado
Parece que comigo me desavim
Quando te sente por perto
Alegra-se numa alegria louca
Imagina um céu tão certo
E um sol que me queima a boca
Com que ele não pode
Deveria deixar à razão
Ela às vezes me acode
Mas ele não se rende, não
Engraçado! Acho que já te falei algo assim...
Falando do amor de outros, eu falava de mim
Princesinha
Parece que dormes mesmo
Será que estás em sono profundo?
Ou vem fingindo esse sono pra um mundo?
E se tu acordasses agora
E olhasses pra mim
Como romance de outrora...
E tu gostasses assim
E se tu me abraçasses
E me beijasses enfim...
As estações cantariam
E eu seria o sol encantado
Nas mais reais atividades
Se tu gostasses de mim
E vendo-te assim dormindo, princesinha
Tão forte, tão meiga
Inocente e clara e contente
Para os meus gestos amáveis
Que de vez em quando tento disfarçar
Mas para que desnortear esses gestos
Que vêm do fundo de meu só-te-querer-bem?
Não pareces me escutar
Nem me ver
Nem me sentir
Tão perto que estou de ti
Não acordes então
Daqui a pouco vou embora
Nem saberás que viajei perdido
A teu lado, sonhando acordado
-Menino a te contemplar
E se estiveres fingindo
Então saiba que transpus a porta do teu céu
E por alguns instantes me contentei
Mas peço que continues dormindo neste momento
Estou te deixando outro beijo
Levado ternamente pela brisa que vem da janela
E pousa mansinho, bem com carinho em teus lábios
Agora
Vou vagaroso e iluminado de encanto
Vou com o sol
Que beija o mar com um beijo lento
Numa tarde tão linda quanto o meu amor por ti
Princesinha